PESQUISADORES BRASILEIROS TRANSFORMAM RESÍDUO DE CANA EM AREIA PARA CONSTRUÇÃO CIVIL

PESQUISADORES BRASILEIROS TRANSFORMAM RESÍDUO DE CANA EM AREIA PARA CONSTRUÇÃO CIVIL

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O estado de São Paulo é o maior produtor de cana-de-açúcar do Brasil. Da cana se produz o açúcar e o álcool. No entanto, o bagaço, um dos principais resíduos desse processo de produção, torna-se um poluente ambiental quando descartado de modo inadequado, na terra ou próximo aos rios.

Uma das maneiras mais comuns de reúso desse material é a queima em caldeiras, de forma a gerar energia para a própria usina. Porém, essa queima gera outro resíduo, conhecido como areia da cinza do bagaço, ou ACBC.

Preocupados com o risco ambiental que envolve o processo, pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) conseguiram simplificar o processo de transformação do bagaço em areia e ainda desenvolveram estudo para aplicar o material na construção civil. O projeto consiste em substituir 30% da areia convencional retirada da natureza pela areia extraída do bagaço da cana.

Bagaço de cana, ACBC bruta, ACBC peneirada e moída, areia natural (Foto: Fabricio Mazocco/CCS-UFSCar)

Mestre em estruturas e construção civil pela UFSCar, o professor Fernando do Couto Rosa Almeida, doutorando na Universidade de Caledônia, em Glasgow, Escócia, escreveu um artigo científico no qual aborda a substituição de materiais obtidos na natureza por outros capazes de resultar em benefícios ambientais. O artigo foi premiado em 2016 pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (Capes), órgão vinculado ao Ministério da Educação, no tema “Sustentabilidade: novos materiais e tecnologias

Fernando salienta que o descarte do bagaço gera um problema ambiental:

Jogam isso na lavoura porque não sabem o que fazer com esse material, que por ano gera cerca de 4 milhões de toneladas”, afirma.

Como a base do concreto para construções é preparada com areia, cimento, água e brita, em diferentes proporções, os cientistas experimentaram substituir parte da areia retirada da natureza por cinzas de bagaço de cana.

Em laboratório, fazemos uma simples padronização para poder usar isso em material de construção”, diz o professor.

Com a mistura, o concreto de cinza pode ser usado na infraestrutura urbana, na construção de calçadas e bancos de praças. Como os grãos da areia de cinzas são mais finos, outra vantagem do produto é de fechar os pequenos poros que aparecem no concreto depois de seco. Isso diminui a porosidade em comparação com o concreto convencional e resulta em mais durabilidade do produto.

Se comparada, a porosidade com cinza é menor do que a do concreto convencional. Com menos poros, menos vazios, é mais difícil de o material se degradar”, diz Fernando.

O pesquisador informa que a ACBC já é pesquisada por alguns grupos ao redor do mundo, mas como substituta do cimento, não da areia. Com relação ao custo de produção, Fernando afirma que um levantamento da pesquisadora Sofia Bressa mostrou que o concreto com ACBC é comparável a um concreto convencional e consegue ser ligeiramente mais barato quando analisado pelo Índice Custo/Resistência.

A pesquisa de mestrado que serviu como base para o artigo premiado pela Capes foi orientada pelo professor Almir Sales, do Departamento de Engenharia Civil da UFSCar, e realizada no âmbito do Grupo de Estudos em Sustentabilidade e Ecoeficiência em Construção Civil e Urbana, liderado por Sales, que estuda essa temática há 10 anos.

Sales contou que algumas empresas têm procurado o grupo, mas elas geralmente querem o produto final e a produção do Gesec é laboratorial, não de grande escala.

Acredito que, se alguma empresa do ramo sucroalcooleiro ou do ramo da construção civil investir nessa tecnologia, provavelmente sairá na frente em termos de lucratividade com respeito ao meio ambiente”, afirmou.

O estudo está disponível neste link: Sugarcane bagasse ash sand (SBAS): Brazilian agroindustrial by-product for use in mortar

Meio Info / Portal MEC / G1

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