A descoberta do Homo naledi há cinco anos (uma nova espécie de hominídeo que conviveu na savana sul-africana com os humanos mais próximos ao homem moderno), pode mudar para sempre o que entendemos sobre a evolução.
Uma equipe de pesquisadores russos apresentou em abril deste ano a reconstrução científica da cabeça do misterioso ser, descoberto na África do Sul pelo paleoantropólogo americano Lee Berger, que presenteou seus colegas russos com uma cópia do crânio do naledi. O resultado do trabalho científico foi divulgado em um ato organizado na Universidade Nacional de Ciência e Tecnologia MISiS.
O naledi é – segundo os evolucionistas – metade símio, metade homem
Ao invés de ele responder a perguntas sobre a origem da nossa espécie, é um elo que não se encaixa muito bem na cadeia evolutiva.
Combina aspectos muito primitivos, como o cérebro, mais próprios dos primatas, com outros muito desenvolvidos (como dentes e pernas), que se assemelham aos do homem contemporâneo.”
São muito peculiares. Medem 1,5 metro e têm um cérebro que pesa entre 400 e 600 gramas, no limite que o separa do Australopithecus (primatas bípedes) e do Homo habilis, o primeiro hominídeo considerado humano”, explicou o antropólogo russo Stanislav Drobishevski.
A primeira análise dos restos de 15 indivíduos achados em uma profunda câmara da caverna sul-africana Rising Star fizeram seus descobridores pensar que estavam perante uma das primeiras espécies humanas, que teria vivido há três milhões de anos.
A surpresa foi grande quando as provas de datação revelaram que o naledi viveu há “apenas” 300 mil anos. Neste mesmo período o Homo rhodesiensis – uma das espécies humanas mais próximas ao homem contemporâneo – já caminhava pela savana sul-africana.
A convivência destas duas espécies em um mesmo ecossistema indica que a evolução humana pode ter seguido caminhos diferentes”, afirmou Drobishevski.
Outras espécies humanas conviveram em uma mesma época histórica. Mas, ou eram tão diferentes como o homem e o chimpanzé (como é o caso do Australopithecus e o habilis). Ou habitavam em diferentes continentes ou separados por fronteiras geográficas intransponíveis.
A forma como se relacionavam os naledi e os rhodesiensis, que alguns antropólogos colocam dentro da espécie Homo sapiens, é um mistério.
Puderam cooperar e inclusive cruzar. O genoma de alguns povos africanos como os pigmeus têm genes que ainda não podem ser explicados”, afirmou o antropólogo.
Da mesma forma que os sapiens europeus têm algo de neandertais em seu DNA, o elo perdido nos genes de alguns povos africanos poderia ser herança dos naledi, embora para resolver o mistério seja preciso decifrar o genoma da nova espécie.
Por outro lado, o cérebro dos naledi, de um tamanho similar ao dos hominídeos mais primitivos (3 vezes menor que o cérebro humano atual), e sua caixa torácica de primatas, que lhe impediria de falar, apontam que seu intelecto era muito pouco desenvolvido.
As mandíbulas e os dentes destes hominídeos são inclusive menores que os do homem moderno. Isto rompe um dos postulados da teoria da evolução.
Até agora se acreditou que na evolução do homem o tamanho dos dentes sempre se reduz”, disse Drobishevski.
Ao contrário, a curvatura dos dedos das mãos, maior que a dos símios atuais, aponta que podem ter evoluído em algum momento para adaptar-se ao meio no qual viviam.
A tendência evolutiva é o endireitamento dos dedos. Embora a forma pelas mãos quase coincida com a do homem moderno e seja capaz de construir ferramentas, a curvatura dos dedos rompe todos os modelos nos quais se acreditava até agora”, acrescentou o cientista russo.
Os cientistas acreditam que o naledi podia andar e construir ferramentas como homem e subir em árvores como macaco.
Algumas ferramentas achadas no passado e que se relacionaram com o sapiens, na realidade poderiam pertencer ao naledi. Embora não se tenha encontrado nenhum resto da cultura destes seres, a forma da sua mão indica que eram capazes de fazer instrumentos, apesar de ter um cérebro muito pequeno”, conclui Drobishevski.
Assim como o naledi, existem também diversos animais que, embora tenham cérebro pequeno, constroem e/ou utilizam ferramentas no seu dia-a-dia.
O uso de ferramentas é generalizado e diversificado, mas não é necessariamente um sinal de inteligência. Nem sequer tentamos classificar estes exemplos como racionais ou irracionais”, diz o biólogo Robert W. Shumaker em matéria da National Geographic.
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