Aquela tampinha plástica que você ignora ao jogar no lixo tem movimentado uma economia solidária – e sustentável – em alguns Estados brasileiros. Há quase três anos, um programa socioambiental propõe que entidades assistenciais coletem, separem e troquem as tampinhas por dinheiro.
Chamado de “Tampinha Legal“, hoje é o maior programa socioambiental de caráter educativo de iniciativa da indústria de transformação do plástico na América Latina. Desenvolvido pelo Instituto SustenPlást e lançado em outubro de 2016 na segunda edição do Congresso Brasileiro do Plástico (CBP), o programa propõe ações modificadoras de comportamento de massa através do fomento e incentivo da coleta de tampas de plástico.
O presidente do Instituto Sustenplást, Alfredo Schmitt, avalia que há benefício econômico e ambiental para toda a sociedade:
A questão toda é fazer a tampinha circular, estamos trabalhando uma economia circular. A tampinha que retorna para a indústria por meio da reciclagem é uma matéria-prima de primeira qualidade. O plástico é muito nobre para ser desperdiçado.”
Na prática, a tampinha vira uma “moeda solidária”.
O Tampinha Legal, em um formato inovador, faz a Economia Circular acontecer em um modo dinâmico, alegre e motivador. Desde o lançamento do programa, as entidades participantes arrecadaram mais de 154 toneladas do produto, retornando quase 300 mil reais para as 95 instituições que já entregaram as tampinhas (das mais de 300 instituições cadastradas no projeto). São mais de mil pontos de coleta e mais de 86 milhões de tampinhas que deixaram de ir para o meio ambiente de forma incorreta.
A questão ambiental é também social.
A coordenadora do Tampinha Legal, Simara Souza, explica que o programa tem objetivo de engajar a sociedade na coleta de todos os tipos de tampas plásticas:
Toda a comunidade pode se envolver de diversas formas, a começar pelo recolhimento de tampas e entrega nos pontos de coleta do programa, que tem caráter educativo. Atualmente, podemos encontrar pontos de coleta em hospitais, órgãos púbicos, escolas, comércio e empresas. Há uma mobilização da sociedade em fazer o bem, que reflete no aumento da qualidade de vida de todos”, explica Simara.
O projeto atua, por enquanto, nos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Santa Catarina e Goiás, mas há planos para expandir aos outros Estados brasileiros.
Troca de tampinhas ajuda entidades a fechar as contas
As entidades são orientadas a separar as tampinhas por cor, o que aumenta o valor agregado do produto, e a armazená-las em sacos de batata, para que haja ventilação e seja evitado o acúmulo umidade. As tampinhas devem estar limpas. Após a coleta, são levadas para pesagem e entrega. Sete dias depois, as entidades recebem o dinheiro.
Recursos melhoram atendimento de crianças e jovens
Duas entidades que mais arrecadaram o produto no Rio Grande do Sul: o Educandário São João Batista e o Centro de Reabilitação de Porto Alegre (Cerepal), ambas instituições que cuidam de crianças com múltiplas deficiências, demonstram como projeto é importante para manter as entidades:
O Educandário arrecadou mais de 17 toneladas desde o começo do projeto e já recebeu, em troca, R$ 34 mil. De acordo com Jandira Freire, voluntária na instituição, a cada tonelada são gerados pouco mais de R$ 2 mil. Este valor ajuda a pagar despesas como a conta de luz da instituição, estimada em R$ 3 mil mensais.
Entregamos tampinhas ao programa, em média, uma vez por semana. Varia de 100 a 160 sacos por carregamento”, conta Jandira.
O Cerepal, só em 2017, recebeu R$ 10 mil juntando tampinhas:
Com os recursos do Tampinha, pintamos toda a escola e fizemos um jardim sensorial para crianças com múltiplas deficiências. Algumas vezes, o projeto nos ajuda a fechar as contas no fim do mês”, afirma Inajara Lafourcade, representante do Cerepal.
Outra entidade, a Acompar é a sexta entidade que mais arrecada tampinhas pelo programa. A organização atende mais de 700 crianças e adolescentes e encontrou no programa uma fonte voluntária de receita extra. O coordenador da entidade, Eduardo Martins Werb afirma que o melhor impacto nem é financeiro:
O melhor impacto nem é o financeiro, é a integração que o projeto está gerando e a consciência socioambiental.”
Segundo ele, as crianças ficam de olho em casa para os pais não colocarem tampinhas no lixo. As mães ajudam a separar as tampinhas por cores.
Aqui, a tampinha faz sentido para elas”, resume Eduardo.
Indo além da “Tampinha Legal”, agora também o “Canudinho Legal”.
O programa Tampinha Legal lançou uma nova ação para contribuir ainda mais com a Economia Circular e proporcionar que entidades assistenciais obtenham mais recursos financeiros: o “Canudinho Legal“.
A partir de agora, a coleta de canudinhos plásticos poderá ser realizada por todas as entidades assistenciais cadastradas, fomentando para a conscientização quanto à destinação correta do material plástico.
Confeccionado em polipropileno (PP), mesmo material das tampinhas, o canudinho plástico é comum e acessível para toda a sociedade. Assim como diversos outros materiais, não apenas plásticos, a destinação adequada para reciclagem pode transformá-lo em matéria prima novamente.
Esta é uma ação modificadora do comportamento de massa que propomos. O canudinho é um material 100% reciclável, assim como todo plástico. Sustentabilidade social, ambiental e econômica são atitudes de sociedades alinhadas com o mundo moderno. A mudança pode e deve ser feita por todos”, entende a coordenadora do Programa Tampinha Legal, Simara Souza.
Além de ser um material reciclável, o canudo plástico é um importante aliado da saúde, pois auxilia pessoas com deficiências múltiplas, vítimas de AVC ou pós-operadas na ingestão de alimentos.
A proibição dos canudinhos, como já ocorre em algumas cidades no Brasil, poderá gerar aumento do custo para o consumidor final, pois com a baixa das vendas do produto ele tende a ficar mais caro na prateleira.
Artefatos plásticos não tem asas, nadadeiras ou pés. Se são encontrados em local inadequado é porque foram desprezados inadequadamente”, disse Alfredo Schmitt, presidente do Instituto SustenPlást.
Os canudinhos plásticos foram a solução encontrada para proporcionar segurança alimentar em decorrência da baixa ou falta de higiene em copos, latas e garrafas evitando leptospirose, diarreias e outras consequências.
Os canudos feitos de materiais alternativos, como vidro, alumínio ou bambu, não são flexíveis e podem causar ferimentos em quem os utiliza. O canudinho plástico é flexível, seguro e dá autonomia para o usuário, além de ser higiênico para o consumo de bebidas que vêm em latas, evitando o contato direto com a boca”, complementa Simara.
Assim como ocorre com o programa Tampinha Legal, a partir da coleta dos canudinhos, cada entidade assistencial cadastrada poderá transformar o material em recursos financeiros para cobrir parte das despesas da instituição.
Como participar de ambos os programas:
Entidades:
As entidades interessadas em participar do Tampinha Legal e Canudinho Legal, podem acessar o link: tampinhalegal.com.br/site/cadastre-sua-entidade.
Demais:
As pessoas/empresas interessadas em ser mantenedores, apoiadores, doadores, voluntários ou recicladores, podem acessar o link: tampinhalegal.com.br/site e na guia “Participe!” do menu no site escolher a opção desejada. Para saber outras formas de fomentar esse ótimo projeto, acesse o link: tampinhalegal.com.br/site/canudinholegal.
Pontos de coleta:
Para saber os pontos de coleta mais próximos para descartar suas tampinhas e canudos, acesse: tampinhalegal.com.br/site/pontos-de-coleta