Uma pesquisa com mais de 1,7 milhão de suicídios, ao longo de quase cinco décadas e em vários países, descobriu que as ocorrências de suicídio aumentam nas segundas-feiras. Os novos dados também revelaram um aumento similar de incidentes no dia de Ano Novo.
A ligação entre feriados e suicídios foi fraca em geral e parece variar bastante dependendo do país ou região, conforme os dados do estudo. Os autores da pesquisa dizem que esses resultados podem ajudar indivíduos, governos e organizações a direcionar melhor seus esforços para apoiar pessoas em crise de saúde mental e também suas famílias.
Os resultados fornecem evidências científicas em escala global, que podem ajudar a criar programas de prevenção e resposta ao suicídio mais focados, relacionados aos feriados e aos dias da semana”, escrevem os pesquisadores.
Pesquisa de 50 Anos aponta maior risco de suicídio devido ao efeito de “promessas quebradas”
O estudo analisou dados sobre suicídios disponíveis na base da Rede de Pesquisa Colaborativa Multi-cidade e Multi-país, abrangendo 740 locais em 26 países, de 1971 a 2019, e considerou um total de 1,7 milhão de casos.
Embora alguns estudos anteriores tenham mostrado que feriados como o Dia de Ação de Graças e o Natal estão associados a taxas mais baixas de suicídio, essa relação foi mais comum na América do Norte e na Europa.
Múltiplos estudos em países europeus e nos Estados Unidos relatam que feriados de fim de ano, como o Dia de Ação de Graças e o Natal, estão ligados a uma menor intenção suicida. No entanto, eles também observam que alguns estudos não encontraram uma ligação forte entre o suicídio e feriados em geral”, explicam os autores.
A pesquisa confirmou a queda nos suicídios aos sábados e domingos, além de alguns feriados. Porém, o risco aumenta consideravelmente às segundas-feiras, com taxas entre 15% e 18% mais altas em comparação com outros dias da semana. Uma teoria chamada de “efeito de promessas quebradas” sugere que as pessoas adiam o suicídio na expectativa de um “novo começo” no fim de semana ou no final do ano, mas essa esperança se desfaz quando o novo ciclo começa, como na segunda-feira e no dia de Ano Novo.
Os pesquisadores alertam, entretanto, que muitas dessas associações são mais regionais do que globais. Na América do Norte, Ásia e Europa, por exemplo, os suicídios são menores aos finais de semana, enquanto em países da América Central e do Sul, Finlândia e África do Sul, há um aumento nos fins de semana.
Homens têm maior propensão ao suicídio que as mulheres
A análise também encontrou correlações significativas por país, sexo e região. As taxas de suicídio foram mais altas na Coreia do Sul, Japão, África do Sul e Estônia, enquanto Filipinas, Brasil, México e Paraguai apresentaram as menores taxas. Em geral, os suicídios foram mais comuns entre homens do que entre mulheres e mais frequentes entre pessoas com menos de 64 anos. Além disso, o aumento nos suicídios de homens no dia de Ano Novo foi ainda maior em comparação com as mulheres.
A proteção oferecida pelos feriados variou em países como China, Taiwan e Coreia do Sul, que celebram o Ano Novo Lunar. Entre esses países, apenas os sul-coreanos tiveram uma redução nas taxas durante os feriados.
Planejando e preparando intervenções de saúde mental
Os pesquisadores reforçam que, embora os dados sejam fortes, não são conclusivos. Estudos anteriores apoiando o efeito de promessas quebradas tinham limitações, principalmente por serem focados em culturas ocidentais e não incluírem uma análise multirregional.
Ainda assim, os autores acreditam que o conjunto de dados de várias décadas, abrangendo grande parte do mundo, é persuasivo e pode ser útil para organizações e formuladores de políticas ao planejar programas de prevenção ao suicídio.
Os resultados deste estudo podem ajudar a compreender melhor as variações de curto prazo nos riscos de suicídio e definir ações de prevenção e campanhas de conscientização sobre o tema”, concluem.
O estudo “Association of holidays and the day of the week with suicide risk: multicountry, two stage, time series study” foi publicado no periódico The BMJ e está disponível neste link.