Os compostos perfluoroalquílicos (PFCs) são uma classe de produtos químicos cujas propriedades atômicas exclusivas foram exploradas para tornar mais convenientes os produtos do dia-a-dia.
Mais notavelmente os PFCs compõem o revestimento antiaderente (lembra do famoso Teflon?) dos utensílios de cozinha, como panelas e frigideiras, fornecem superfícies repelentes de água, óleo e manchas para tecidos e carpetes, e são usados para fazer embalagens à prova de gordura para alimentos gordurosos.
No entanto, como muitos produtos químicos “milagrosos” descobertos ou criados no século 20, os PFCs têm alguns efeitos seriamente sinistros que só recentemente começamos a documentar e entender.
Uma pilha crescente de evidências já estabeleceu convincentemente que os PFCs podem prejudicar o sistema reprodutivo humano interferindo na sinalização hormonal, e na mais recente – e definitivamente mais tangível – investigação sobre o impacto dos produtos químicos, uma equipe da Universidade de Pádua, Itália, descobriu que homens jovens que cresceram em uma área com água potável contaminada com PFCs têm pênis significativamente menores e menos espermas do que aqueles que cresceram com água limpa.
Levando o estudo um passo adiante, o primeiro autor Andrea Di Nisio e seus colegas usaram uma série de experimentos celulares em laboratório para fornecer a primeira evidência direta de que dois dos PFCs mais comuns, compostos chamados PFOA e PFOS , se ligam facilmente à testosterona, bloqueando sua ativação.
Este estudo documenta que os PFCs têm um impacto substancial na saúde humana masculina. Eles interferem diretamente nas vias hormonais e levam à infertilidade masculina. Foi descoberto que os níveis aumentados de PFCs no plasma e no fluido seminal correlacionam-se positivamente com a testosterona circulante. Com isso há uma redução da qualidade do sêmen, volume testicular, comprimento do pênis e AGD [distância anogenital] (a AGD encurtada é um marcador do desenvolvimento anormal do trato reprodutivo masculino)“, informa o estudo.
A região de Veneto, na província de Pádua, é uma das quatro localidades do mundo conhecidas por estarem altamente poluídas com PFCs. Os outros membros desse clube deprimente são a região de Dordrecht, na Holanda, o distrito de Shandong, na China, e o Vale de Mid-Ohio, na Virgínia Ocidental, onde uma fábrica da DuPont despejava uma enorme quantidade de PFCs num rio próximo e encobria evidências dos perigos desses produtos.
Como o primeiro relatório sobre a contaminação da água por PFCs remonta a 1977, a magnitude do problema é alarmante, pois afeta toda uma geração de jovens, a partir de 1978“, escreveram os pesquisadores.
Para piorar ainda mais, todos os PFCs que foram introduzidos no Meio Ambiente continuam a representar uma grande ameaça. Os cientistas estimam que essas substâncias químicas extremamente estáveis sobreviverão à vida humana na Terra .
Então, o que podemos fazer para nos manter seguros? Di Nisio acredita que a próxima prioridade é descobrir como remover com segurança os PFCs do sangue.
Até que possamos fazê-lo, e até que mais PFCs sejam banidos ou eliminados, as perspectivas estão longe de serem positivas.
É muito difícil saber se um produto contém esses produtos químicos. Mesmo que um produto seja declarado explicitamente como ‘livre de PFOA’, eu não me sinto seguro. O PFOA é apenas uma das centenas de compostos de PFC possíveis, e todos eles podem ser perigosos. É muito difícil evitar qualquer contato com qualquer PFC“, disse ele.
Os resultados completos do estudo foram publicados no Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, disponíveis neste link.