Um paradoxo à escala cósmica intriga os astrônomos há anos: a estrela conhecida como Matusalém, cujo nome oficial é HD140283, seria mais velha que o Universo.
Segundo indicam os cálculos dos astrônomos, a estrela Matusalém (uma referência ao personagem bíblico que teria vivido impressionantes 969 anos) tem 14,5 bilhões de anos. O único problema é que o Big Bang, o evento que teria criado todo o Universo, ocorreu há “apenas” 13,8 bilhões de anos atrás.
Os astrônomos determinam a idade de uma estrela a partir das suas propriedades físicas, medindo a quantidade de carbono, oxigênio e ferro que contém. O espectro da luz das estrelas contém linhas escuras chamadas linhas Fraunhofer. Estes são formados por diferentes elementos da estrela que interagem com sua luz. Mas estudando essas linhas, os astrônomos podem determinar a composição de uma estrela. A temperatura e a luminosidade são alguns dos fatores estudados para determinar a idade de uma estrela.
O tempo de vida de uma estrela, no entanto, depende de quanto metal e massa contém. As estrelas mais antigas têm uma baixa massa e baixa metalicidade. Neste contexto, o “metal” é considerado como subproduto de uma reação de fusão no núcleo da estrela.
Algumas das primeiras estrelas não tinham metais. Mas, à medida que morrem, os seus restos tornam-se parte de novas estrelas, que adotam os metais criados pelas suas predecessoras.
Estudar a composição das estrelas, logo, é a melhor forma de as analisar.
Uma forma de o fazer é medindo a temperatura e a pressão da radiação de fundo de micro-ondas. Essa radiação cósmica é a luz mais distante que podemos detectar. Outra forma é estudar a formação das estrelas, a formação de aglomerados estelares e a criação e desenvolvimento das galáxias.
Determinar a idade do Universo requer uma abordagem diferente e complexa, mas a maior parte dos cientistas diz que os nossos cálculos, com todas as variáveis consideradas, são bastante sólidos – com uma margem de erro de 100 milhões de anos, muito menor do que a diferença de idades do Universo e de Matusalém.
Porém, a misteriosa estrela – que é 700 milhões de anos mais velha do que o Universo – aparentemente não vai causar nenhuma mudança de paradigma na forma como vemos o cosmos. Isso porque a comunidade científica vê como quase certo que o Universo não tenha 14,5 bilhões de anos (que seria a idade da estrela Matusalém) e como o Big Bang ocorreu a cerca de 13.8 bilhões de anos, com margem de erro em 100 milhões de anos para mais ou para menos, logo, nenhuma coisa pode ser mais antiga do que a própria origem do Universo. Agora os cientistas terão que rever todos os estudos para determinar a idade da HD140283.
Uma equipe de astrônomos reavaliou a estrela e atualizou a sua idade, tornando-a “mais adequada” ao nosso modelo cosmológico atual.
O autor principal do estudo, Howard Bond, professor do departamento de astronomia e astrofísica da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e os seus colegas, analisaram o brilho, a distância, a estrutura e a composição da estrela.
Matusalém está a caminho de se tornar uma gigante vermelha, esgotando o seu núcleo de hidrogênio. Deverá então expandir-se durante algum tempo, depois diminuir para uma anã branca, ou acabar como uma supernova.
Os cientistas usaram o telescópio espacial Hubble para entender melhor a distância que se encontra a HD140283, usando o princípio da paralaxe – a ideia de que à distância as retas parecem cruzar-se, quando na realidade permanecem paralelas.
Em outras palavras, Bond e os colegas achavam que poderiam obter uma medida mais precisa dessa distância entendendo a variância entre a posição da órbita da Terra e do Hubble. E estavam certos.
Matusalém está a 190,1 anos-luz de distância de nós, movendo-se à incrível velocidade de 1,3 milhões de km/h, com uma órbita excepcionalmente longa. A partir da medida desta distância, os cientistas conseguiram calcular o seu brilho e reavaliar a sua idade.
De acordo com Bond, há agora um nível de incerteza, que poderia somar ou subtrair 800 milhões de anos à suposta idade da estrela. Uma subtração tornaria Matusalém um pouco mais jovem do que o próprio universo, com 13,7 bilhões de anos, e traria de novo harmonia ao Cosmos e paz de espírito aos astrônomos de todo o Universo.
A equipe tentou também entender melhor a taxa de combustão da estrela, que aparenta ter uma alta relação de oxigênio para ferro – o que a pode tornar ainda mais jovem do que o previsto inicialmente.
Os resultados do estudo foram publicados na revista Solar and Stellar Astrophysics, disponível neste link.