Quase 1 bilhão de pessoas em cidades de todo o mundo enfrentam escassez de água hoje e o número deve chegar entre 1,7 bilhão e 2,4 bilhões nas próximas três décadas, de acordo com o Relatório Mundial de Desenvolvimento da Água da ONU, publicado em março de 2023. A previsão é que a necessidade urbana por água aumente 80% até 2050.
A escassez de água também está se tornando uma ocorrência mais frequente nas áreas rurais, segundo o mesmo relatório. Atualmente, entre 2 bilhões e 3 bilhões de pessoas sofrem de escassez de água pelo menos um mês ao ano.
Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco, agência da ONU que produziu o relatório, disse que os governos devem cooperar em relação à água:
Há uma necessidade urgente de estabelecer mecanismos internacionais fortes para evitar que a crise hídrica global saia do controle. A água é o nosso futuro comum, e é essencial agirmos juntos para compartilhá-la de forma equitativa e gerenciá-la de forma sustentável”, disse ela.
A ONU realizou em março passado a sua primeira conferência sobre a água desde 1977 em Nova Iorque, coorganizada pelos governos da Holanda e do Tajiquistão, na qual as questões globais da água foram discutidas por ministros e um pequeno número de chefes de Estado de todo o mundo. Eles ouviram alertas de uma crise hídrica iminente, que tem sido amplamente negligenciada pelos governos.
Cerca de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo não têm água potável (segura para consumo), enquanto 3,6 bilhões não têm acesso a saneamento básico, de acordo com o relatório.
O uso da água tem crescido globalmente em cerca de 1% ao ano nos últimos 40 anos e isso continuará, impulsionado pelo crescimento e desenvolvimento populacional. Cerca de um décimo da população mundial vive em países com alto estresse hídrico.
Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam de Pesquisa de Impacto Climático e copresidente da Comissão Global de Economia da Água, disse em entrevista ao jornal The Guardian que:
A evidência científica é que temos uma crise hídrica. Estamos abusando [do consumo] da água, poluindo e alterando todo o seu ciclo hidrológico global através do que fazemos com o clima. É uma crise tripla.” [ênfase acrescentada]
Um relatório histórico publicado, também em março de 2023, pela Comissão Global de Economia da Água afirmou que a demanda por água doce superaria a oferta em 40% até 2030. Isso teria enormes implicações para a economia global, para a natureza, para a vida urbana e para o clima, mas poucos governos estariam tomando medidas para preservar o abastecimento de água e reduzir a poluição.
Rockström disse que abordar os problemas com a água é essencial para enfrentar outras crises globais, incluindo as crises dos alimentos e a do clima:
Não haverá revolução agrícola se não resolvermos [a questão] da a água. Por trás de todos esses desafios que estamos enfrentando, sempre há água e nunca falamos de água”, concluiu. [ênfase acrescentada]