Uma técnica revolucionária de edição de genes saudada como o futuro da erradicação de doenças e considerada para um prêmio Nobel de química pode ser menos precisa e causar mais danos às células do que se imaginava anteriormente, diz novo estudo publicado na segunda (16).
A técnica CRISPR-Cas9 (Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas) foi apresentada pela primeira vez há cerca de seis anos e permite aos cientistas inserir, remover e corrigir com precisão uma sequência defeituosa numa cadeia de DNA de uma célula. Isso aumentou as esperanças de que um dia os genes causadores de doenças poderiam ser removidos ou alterados antes mesmo de um bebê nascer.
As CRISPRs são parte do sistema de defesa imunológica em bactérias, usadas para identificar o local exato no genoma onde o corte deve ser feito. A Cas9 é uma proteína usada como “tesoura” para cortar o gene defeituoso, que é então substituído ou fixado pelo mecanismo de reparo de DNA da própria célula.
Mas, experimentos de laboratório usando células de camundongo e humanas revelaram que a técnica causou “frequentemente” mutações genéticas “extensas”, relataram os pesquisadores responsáveis no estudo publicado no periódico Nature Biotechnology.
Esta é a primeira avaliação sistemática de eventos inesperados resultantes da edição CRISPR-Cas9. As mudanças no DNA foram seriamente subestimadas antes”, disse Allan Bradley, do Instituto Wellcome Sanger, na Inglaterra e co-autor do estudo.
É importante que qualquer um que esteja pensando em usar essa tecnologia para a terapia genética proceda com cautela e procure cuidadosamente verificar os efeitos prejudiciais”, avisou Bradley em um comunicado divulgado pelo instituto.
A técnica ainda não está aprovada para uso em humanos. Até agora, os pesquisadores a usaram para melhorar a audição em camundongos que estavam ficando surdos e assim consertar uma mutação causadora de doenças em embriões humanos clonados em estágio inicial. Mas a nova descoberta gera “implicações de segurança”, disse a equipe.
Eles encontraram “grandes rearranjos genéticos, como supressões e inserções de DNA” nas células, o que poderia levar a genes importantes sendo ativados ou desativados, causando mudanças perigosas.
A pesquisa também mostrou que os testes padrão não detectam danos ao DNA causados por CRISPR-Cas9. Outros especialistas disseram que não está claro como essas mudanças grandes e não intencionais não foram percebidas antes.
Mas os resultados não dão motivo para pânico ou para perder a fé nos métodos quando são realizados por aqueles que sabem o que estão fazendo”, disse Robin Lovell-Badge, do Instituto Francis Crick, um centro de pesquisa biomédica em Londres.
Para Francesca Forzano, consultora em genética clínica do Guy’s e St Thomas’ NHS Foundation Trust, o trabalho mostrou que
…a CRISPR-Cas9 é muito menos segura do que se pensava anteriormente e as técnicas de monitoramento de segurança não eram totalmente adequadas. Mais pesquisas são necessárias antes que qualquer aplicação clínica do método seja considerada”, afirmou Forzano.
O estudo publicado na revista científica Nature está disponível neste link.
3 thoughts on “EDIÇÃO DE GENES DANIFICA O DNA MAIS DO QUE SE IMAGINAVA, REVELA NOVO ESTUDO”