O Museu Nacional, no Rio de Janeiro, apresentou hoje (30) os detalhes de uma descoberta na China de centenas de restos de ossos de pterossauros e mais de 300 ovos, alguns deles com embriões preservados.
O achado envolveu cientistas brasileiros e chineses. Um estudo sobre o assunto será publicado na edição que começa a circular amanhã (1º) da revista Science, uma das mais conceituadas publicações de divulgação científica do mundo.
De acordo com o paleontólogo brasileiro Alexander Kellner, a descoberta ocorreu em expedições realizadas em 2015 e 2016 na região de Turpan-Hami, no noroeste da China.
Encontrou-se no local a maior concentração de ovos de vertebrados extintos conhecida até então. Eles estavam em um bloco de pouco mais de 3 metros quadrados.
É uma das mais importantes descobertas sobre vertebrados extintos nos últimos 10 anos”, avaliou Kellner.
Os pterossauros são répteis voadores. Foram os primeiros animais vertebrados a desenvolverem a capacidade de voo ativo, antes mesmo das aves. Parentes próximos dos dinossauros, eles desapareceram sem deixar descendentes há cerca de 66 milhões de anos (segundo a cronologia evolutiva), no período geológico conhecido como Cretáceo.
Já foram descobertas no mundo cerca de 300 espécies de pterossauros, distribuídas em todos os continentes. A espécie encontrada na China recebeu o nome de Hamipterus tianshanensis. Na posição quadrúpede, ela teria uma altura média de 1,2 metros e seu tamanho máximo seria alcançado após dois anos de nascimento. A envergadura da asa variava entre 1,5 e 3,5 metros. Pelo formato dos dentes, os pesquisadores acreditam que eles eram carnívoros e se alimentavam de peixes.
Concentrações expressivas de ossos de pterossauros já haviam sido encontradas na Argentina e no Brasil, mas sem grande volume de ovos. Juliana Sayão, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e também integrante da equipe de pesquisa, destaca achados na bacia do Araripe, que alcança três estados do Nordeste: Ceará, Pernambuco e Piauí.
Lá já foram feitas descobertas de mais de duas dezenas de espécies pterossauros. A última delas foi pelo nosso grupo de pesquisa há três anos”.
A ciência ainda reúne um conhecimento limitado sobre os pterossauros, sobretudo pela dificuldade em encontrar fósseis preservados. Seus ossos, muito finos e delicados, são extremamente frágeis. Os ovos são de casca mole, diferente da maioria das aves e mais semelhante aos de cobras e lagartos.
Eles não quebram, eles deformam”, afirma Kellner.
Até então, só haviam sido encontrados nove ovos em todo o mundo – na China e na Argentina -, sendo três deles com embriões, mas todos amassados e compactados. Neste novo achado, além da surpreendente descoberta de mais de 200 ovos, foram encontrados de forma inédita 16 embriões com ossos preservados em três dimensões.
Análises de tomografia computadorizada nos fósseis mostraram que, nestes pterossauros recém-nascidos, os membros vinculados ao voo ainda não estavam bem ossificados.
Isso demonstra que, quando essas animais nasciam, eles poderiam andar, mas possivelmente não poderiam voar. Essa é uma informação inédita. E isso implica no cuidado parental. Ou seja, os pterossauros recém-nascidos, pelo menos nessa espécie, precisavam de algum acompanhamento dos pais para sobreviverem”, explica Kellner.
O pesquisador também destaca que os fósseis foram encontrados dispostos em oito camadas, numa altura de 2,2 metros. Cada camada representa um tempo diferente na escala de anos.
O que estamos observando é que eles faziam colônias de nidificação, ou seja, várias fêmeas iam para o mesmo lugar colocar seus ovos. Os achados também indicam que eles retornavam sazonalmente a essas mesmas áreas. Eram locais propícios para a procriação”.
A partir de amanhã (1º), interessados na descoberta poderão ver réplicas dos ovos e fragmentos dos ossos no Museu Nacional. O horário de visitação do público é das 10h às 17h e o ingresso custa R$6. A partir de 16h, a entrada é franca. Fundado em 1818 e atualmente vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Museu Nacional localiza-se na Quinta da Boa Vista e é a mais antiga instituição científica do Brasil.