Nos próximos 30 anos, a população da Terra aumentará tanto que esgotará a capacidade do planeta de cultivar alimentos suficientes, de acordo com uma nova análise. E o próprio sistema alimentar global estimula a mudança climática, altera as paisagens e impulsiona a escassez de recursos.
Para completar, à medida que as nações em crescimento começarem a comer mais, isso intensificará esses impactos. Agora, os pesquisadores identificaram as melhorias que o planeta precisa para alimentar sustentavelmente sua população em expansão.
Sem uma ação eficaz, os impactos ambientais do sistema alimentar podem aumentar entre 50% a 90% até 2050”, afirmou Marco Springmann, especialista em sustentabilidade ambiental e saúde pública da Universidade de Oxford que liderou a pesquisa.
Nesse caso, todas as fronteiras planetárias relacionadas com a produção de alimentos seriam superadas, algumas delas em mais do dobro”, acrescentou ele.
Springmann queria saber quais são as opções para reverter a crise. Ele e seus colegas construíram um modelo para entender como o sistema alimentar impacta cinco principais setores ambientais: emissões de gases de efeito estufa relacionados a mudanças climáticas, uso de terras agrícolas, uso de água doce e aplicações de nitrogênio e fósforo. O modelo explica a produção de alimentos, o processamento e as necessidades de alimentação para 62 produtos agrícolas em 159 países, juntamente com pegadas ambientais específicas de cada país.
A equipe estimou que em 2010, o sistema mundial de alimentos emitiu cerca de 5,2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono, ocupou 12,6 milhões de quilômetros quadrados de terra cultivada (uma área maior que os EUA), usou 1.810 quilômetros cúbicos de água doce e aplicou 104 teragramas de nitrogênio (o equivalente a mais de 300.000 aviões Boeing 747) e 18 teragramas de fertilizantes fosfatados.
Especialistas estimam que a população global crescerá para quase 10 bilhões de pessoas até 2050. Combinado com a triplicação da renda global, esse crescimento pressionará ainda mais o sistema alimentar e o impacto da catástrofe nos setores ambientais em 50% a 92% e mudanças devem ser feitas para permanecer dentro dos limites do planeta, afirma Springmann e seus colegas, na publicação de 10 de outubro na revista científica Nature.
As emissões de gases do efeito estufa, em particular, vão disparar, projetam os pesquisadores. Alimentos de origem animal é o que mais influencia. Springmann e sua equipe estimam que a produção animal fornece quase três quartos do total das emissões agrícolas, enquanto as culturas básicas, como os cereais, têm uma pegada muito menor.
Soluções Sustentáveis
Como a produção de alimentos de origem animal é tão intensiva em termos ambientais, os cientistas propõem mudar as dietas para incluir menos carne e mais grãos, nozes, legumes, verduras e frutas. A mudança proporcionaria alívio para o sistema e beneficiaria o status de saúde do mundo. Os pesquisadores recomendam ainda reduzir o desperdício de alimentos e melhorar as práticas de manejo agrícola.
Mais de um terço de toda a comida produzida é perdida antes de chegar ao mercado ou é desperdiçada nos lares. A redução do desperdício de alimentos pela metade reduziria o impacto ambiental do sistema alimentar em até 16%, segundo o relatório.
A implementação de práticas de manejo agrícola propostas, como aumentar o rendimento, reciclar o fósforo e utilizar a água da chuva de forma mais eficiente, pode reduzir as tensões do sistema alimentar sobre o meio ambiente em até 30%, segundo os pesquisadores.
Nenhuma solução única é suficiente para evitar cruzar fronteiras planetárias”, disse Springmann. Mas quando as soluções são implementadas em conjunto, nossa pesquisa indica que pode ser possível alimentar a população em crescimento de forma sustentável”.
O estudo publicado na revista Nature pode ser acessado através deste link.