O segredo para fazer tecidos e outros materiais quase indestrutíveis pode ser a mesma coisa que nos faz crescer: açúcar.
Uma nova descoberta da Escola de Medicina da Universidade da Virgínia (UVA) revela como os açúcares poderiam ser usados para fabricar tecidos e outros materiais quase indestrutíveis. A natureza descobriu isso há muito tempo, mas a resposta estava escondida em banhos borbulhantes de ácido.
Extremófilos, de novo eles.
Em certas fontes termais ácidas, até fontes termais vulcânicas, vivem organismos unicelulares antigos que podem existir em condições extremas demais para a maioria das formas de vida, os extremófilos (os Tardígrados também são extremófilos). Eles têm minúsculos apêndices chamados “pili” que se mostraram resistentes a ponto de não ceder a numerosos esforços para quebrá-los, na busca por desvendar seus segredos.
Não conseguimos quebrar essas coisas em detergente em ebulição. Eles apenas permaneceram absolutamente intactos. Então, tentamos tratamentos mais duros, incluindo fervura em soda cáustica. Nada”, disse o pesquisador Edward H. Egelman, PhD, do Departamento de Bioquímica e Genética Molecular de UVA.
Os pesquisadores tentaram várias outras abordagens antes de recorrer à microscopia crio-eletrônica, o que lhes permite visualizar imagens submicroscópicas quase até átomos individuais. O que eles encontraram foi chocante!
Havia apenas uma enorme quantidade de açúcar cobrindo toda a superfície desses filamentos de uma forma nunca antes vista. Esses seres criaram uma maneira de usar quantidades enormes de açúcar para cobrir esses filamentos e torná-los resistentes aos incríveis ambientes extremos em que vivem”, disse Egelman.
Você pode comparar o revestimento de açúcar a uma casca dura de açúcar em uma maçã doce.
A casca de açúcar externa é muito mais dura do que o que ela envolve. Neste caso, porém, os açúcares foram organizados de forma tão estável que até mesmo o ácido não pode dissolvê-los.
Esses pili, que são filamentos de proteína, normalmente seriam muito sensíveis ao calor, ácido e enzimas, mas o revestimento em açúcar os transformou em quase indestrutíveis.
Há muitas evidências mostrando que a adição de um pequeno número de açúcares pode aumentar a estabilidade de drogas e outras estruturas de proteínas, mas ninguém, até onde sabemos, já viu essa enorme quantidade… até o ponto em que torna algo quase indestrutível”, explicou Egelman.
Egelman disse também que as pessoas podem aprender com o design da natureza para fabricar produtos que sejam igualmente resistentes. Por exemplo, uma proteína como a lã, que se fosse coberta num arranjo especial de açúcares seria matéria prima de roupas incrivelmente duráveis. A mesma metodologia poderia ser aplicada a materiais de construção, que teriam alta resistência.
A descoberta é apenas a mais recente de Egelman, cujas muitas contribuições ao seu campo lhe valeram a eleição para a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, uma das mais altas honrarias que um cientista pode receber.
O estudo foi publicado no periódico científico Nature Microbiology, disponível neste link.
Muito interessante.